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Escrito por Lotte van RijswijkLotte van Rijswijk

Mês do amigo: 70% dos brasileiros entrevistados cultivam boas amizades no ambiente de trabalho

20 min. de leitura
Pesquisa amizade no trabalho - Onlinecurriculo
70% dos brasileiros cultivam amizade no ambiente de trabalho. Veja esse e mais dados na pesquisa feita pela Onlinecurriculo

87% dos respondentes mantêm amigos de empregos anteriores; 80% teriam amizades com seus chefes

Parece ser de opinião geral que, com o passar dos anos, vai se tornando mais desafiador criar novos laços que poderão se transformar em boas amizades. Com as demandas da vida adulta e a falta de tempo para outras atividades, o ambiente de trabalho muitas vezes acaba sendo o espaço em que se formam essas conexões.

Neste cenário, 70% dos brasileiros entrevistados em uma pesquisa afirmaram que possuem pessoas que consideram como amigos no local onde trabalham. Os dados são de uma pesquisa da Onlinecurriculo, plataforma de currículos online que buscou entender um pouco mais das relações que se constroem no ambiente profissional.

Colegas de trabalho podem ser amigos?

A pergunta que pode dividir opiniões parece ter uma resposta simples: podem, sim. Além da grande maioria dos entrevistados no estudo que possuem amigos no espaço de trabalho, outros 13% se veem aprofundando essas conexões em breve, enquanto apenas 16% afirmam não ter nenhum tipo de amizade nas instituições em que atuam.

E as amizades não ficam restritas ao emprego atual. Conexões feitas em trabalhos anteriores perduram, é o que afirmam 87% dos respondentes. Mesmo não dividindo as rotinas diárias, o que poderia afastar as relações, 30% dos entrevistados mantêm um ou dois amigos de antigos empregos, 28% preservam de três a cinco amigos e 29% possuem mais de cinco amizades conservadas mesmo com a troca de trabalho.

Amanda Augustine, especialista em carreiras da Onlinecurriculo, fala sobre a criação de amizades no ambiente de trabalho. “Com a vida adulta, fica cada vez mais difícil ter tempo disponível para encontrar pessoas e desenvolver novas amizades. Fazer um curso ou praticar um hobby podem ser boas soluções para o problema, mas isso nem sempre é possível na vida real, e o trabalho muitas vezes toma esse lugar. Passamos grande parte dos nossos dias no trabalho, o que torna praticamente inevitável que se crie alguma conexão com as pessoas com quem se convive diariamente”.

“O convívio, para além da identificação de rotinas, pode aproximar pessoas com as quais nem se imaginaria construir uma relação. As dificuldades do trabalho também podem aproximar as pessoas, e não tem nada de errado com isso - pelo contrário. As amizades entre colegas podem ser muito benéficas no trabalho, mas também é incrível quando uma conexão se cria a extrapola os limites do espaço profissional”, completa Augustine. 

Fortalecendo as relações

Amizades são vínculos que, de forma geral, exigem algum nível de dedicação e cuidado. Cada uma da sua forma única, as relações se criam por motivos únicos, mas se mantêm por laços que são fortalecidos dia a dia.

Mesmo no ambiente de trabalho, a identificação de gostos pessoais, como filmes, músicas e séries, é o fator que mais fortalece as amizades (50%), com a participação em um mesmo projeto (48%) aparecendo como a segunda opção. Também ganha destaque, na terceira posição, a importância dos desabafos (33%).

Além de poder comentar em primeira mão o episódio novo da série favorita ou compartilhar uma música nova, as amizades no trabalho trazem outras vantagens.

A melhora na comunicação foi indicada por 57% dos respondentes como o principal benefício, seguida de uma maior colaboração nas atividades, citada por 56% dos participantes, uma maior motivação no trabalho, para 52%, e apoio emocional, segundo 50%.

“Podemos ver que as amizades no trabalho não se restringem a assuntos profissionais. O lado pessoal, com desabafos e trocas de referências em comum, ainda é essencial para se criar relações. Os projetos profissionais, no entanto, fortalecem esse vínculo. O uso da criatividade e a resolução de problemas fazem com que as pessoas se abram e revelem outros lados de suas personalidades. Passar por uma dificuldade juntos para, depois do desafio, entregar um bom resultado, reforça de forma única uma união”, reflete Augustine.

Happy hour da firma

O famoso happy hour depois do expediente é um clássico entre algumas equipes. Mas, diferentemente do que poderia se pensar, essa não é a programação favorita entre os colegas fora do ambiente de trabalho. Sair para almoçar ou jantar (45%) e ir a festas ou celebrações pessoais, como aniversários e confraternizações, (41%) são as atividades citadas como as mais realizadas fora do expediente. O happy hour aparece em terceira colocação, com 31% das respostas. 

A hierarquia importa?

Dependendo do tamanho, uma empresa pode contar com diversos cargos ou funções. Além da realização de diferentes tarefas e outros níveis de responsabilidade, pontos mais subjetivos podem entrar em xeque quando se fala em amizades no espaço de trabalho, entre elas, a hierarquia das posições.

De todo modo, mesmo que possa envolver algumas questões sensíveis, 80% dos entrevistados afirmaram que seriam amigos de seus chefes, enquanto a minoria de apenas  20% não vê essa relação crescendo.

A porcentagem positiva de pessoas que não teriam problemas em desenvolver amizade com seus chefes não exclui alguns dilemas que possam surgir a partir desses vínculos. Nesse sentido, o receio de parecer que a relação tem algum interesse de favorecimento é o principal empecilho para o avanço da conexão entre colaboradores e chefes, conforme 55% dos respondentes da pesquisa. Também aparecem com destaque a dificuldade em separar o papel profissional da amizade (40%) e o conflito de interesses (31%).

“Se, por um lado, estar em um cargo semelhante pode aproximar as pessoas, de outro, a hierarquia poderia afastar as partes. No entanto, o que se pode notar é que, neste momento, as posições não estão interferindo na criação de conexões nas empresas ou, pelo menos, na intenção de criação entre elas. Isso é muito positivo pois cargos, assim como rendas, não devem ser balizadores de amizades. Pelo contrário, quanto mais diversa uma amizade, maiores podem ser as descobertas - tanto para o âmbito pessoal quanto para o profissional”, analisa Augustine.

Sem climão no trabalho

Uma das razões que poderiam desestimular as amizades no trabalho seria a possibilidade de gerar conflitos. Contudo, o desenvolvimento de amizades nas empresas nunca foi motivo de problema para 71% dos entrevistados. Apenas 29% já passaram por alguma incomodação a partir da relação com amigos no trabalho.

Entre as principais causas de conflito estão a diferença de opiniões pessoais (48%); desacordo em relação a atividades no trabalho (40%); fofocas ou exposição (40%); falta de confiança (26%) e falta de comunicação (24%).

“Qualquer relação pode, de alguma forma, ter algum conflito, seja ela de amizade ou não. O que fica claro com a pesquisa realizada é que, de forma geral, as amizades no ambiente de trabalho são muito benéficas. O trabalho é um espaço importante na vida de todo jovem e adulto que já esteja inserido no mercado, e as amizades são formas de tornarem esse local profissional, no qual passamos tantas horas dos nossos dias em, em um lugar mais leve e agradável”, comenta Augustine.

“Aos gestores, fica o incentivo da criação de espaços de interação entre sua equipe, buscando, também, o desenvolvimento dessas conexões que podem ser muito ricas para a empresa mas, principalmente, para os colaboradores. Precisamos desmistificar o pensamento de que o trabalho precisa ser um momento sério e, até mesmo, chato. É importante que se consiga criar ambientes de trabalho tranquilos e prazerosos em que a produtividade certamente será maior, e as boas relações têm consequência direta nisso”, completa Augustine.

Mesmo no ambiente de trabalho, mulheres desenvolvem amizades mais profundas

Homens preferem manter relações de forma mais profissional (38%); mulheres investem no apoio emocional, como em desabafos (38%)

Muito se fala sobre a importância da desconstrução de estereótipos, uma busca que, de forma geral, vem avançando cada vez mais com o passar dos anos. No entanto, quando se trata das semelhanças e diferenças entre homens e mulheres, algumas características parecem realmente predominar em determinados gêneros. E essas particularidades extrapolam os limites dos indivíduos e alcançam as relações, sejam elas amorosas, familiares, de amizade ou de trabalho.

No ambiente de trabalho, espaço onde também se criam laços de amizade, é possível perceber e analisar algumas das particularidades dessas relações. Mesmo no âmbito profissional, os pilares das amizades para as mulheres e para os homens são diferentes, é o que mostra uma pesquisa da Onlinecurriculo, plataforma de currículos online. Enquanto para 57% das mulheres o maior benefício de se ter amigos no trabalho é o apoio emocional, esse número cai para 43% para os homens.

Entre as vantagens, as mulheres também indicaram a redução da ansiedade (29%) e o auxílio na resolução de conflitos (47%) que, para os homens, ficam em 19% e 34%, respectivamente.  

Profissional ou pessoal?

Existem diferentes opiniões sobre como se deve manter as relações com os colegas dentro do espaço de trabalho, podendo elas serem estritamente profissionais ou com diferentes aberturas para a vida pessoal.  

Mesmo que homens e mulheres gostem de desenvolver amizades no trabalho em igual porcentagem (35%), de forma geral, 38% dos homens disseram que tendem a manter relações de forma estritamente profissional, enquanto 29% das mulheres preferem as relações dessa forma. Por outro lado, quando se fala de desenvolver as relações de forma levemente pessoal, mulheres aparecem com maior porcentagem (36%) se comparadas com os homens (27%).

Amanda Augustine, especialista em carreiras da Onlinecurriculo, analisa as diferentes relações no ambiente profissional. “Mesmo que já possamos observar a quebra de muitos estereótipos específicos, ainda levará  tempo para que se quebrem alguns desses paradigmas completamente. O ambiente de trabalho, por muitos anos, foi predominantemente masculino, e as mulheres ainda buscam seu local de igualdade nesses espaços”, explica ela.

“Em relação às amizades, mesmo que pareça clichê, mulheres realmente tendem a fortalecer suas conexões de forma mais pessoal e emocional. Seja pela construção social do papel da mulher ou por características atreladas ao feminino, o importante é perceber que essa maneira de desenvolver as amizades, através do suporte, da atenção e do cuidado, é muito importante para que as mulheres se fortaleçam,dentro e fora do espaço de trabalho ”, analisa Augustine.

O que fortalece as amizades

Amizades são relações que se fortalecem com o tempo. No trabalho, muitas delas se criam pela convivência diária, pelo compartilhamento dos problemas do trabalho ou pela parceria nas atividades do ofício. Contudo, é preciso mais do que a presença no dia a dia para que as conexões cresçam e perdurem.  

Mas o que é essencial para as amizades? A compatibilidade de algumas referências certamente faz a diferença. A identificação de gostos pessoais, como filmes, séries e músicas, é muito importante para as mulheres (57%), mas também aparece como algo bastante significativo para os homens (42%).

Já no que diz respeito ao apoio emocional, novamente as mulheres aparecem com uma porcentagem de destaque, com 38% indicando os desabafos como essenciais para fortalecer uma amizade, enquanto, para os homens, o compartilhamento de questões pessoais aparece com 28%.

No entanto, alguns pontos aparecem como essenciais nas amizades para ambos os gêneros. Pontos como participação em um mesmo projeto de trabalho, fofocas e troca de memes aparecem em igualdade para homens e mulheres.

“É interessante perceber que algumas respostas realmente validam certos estereótipos de gênero, especialmente quando se fala em pontos mais emocionais, como os desabafos. Essas trocas profundas são conhecidas por marcar as amizades femininas.Dito isso , existem certos assuntos que são claramente universais, como as fofocas e os memes, que com certeza aproximam as pessoas e que também podem trazer leveza para as relações - especialmente no trabalho ", comenta Augustine.  

Do trabalho para a vida

Mas será que os brasileiros levam as amizades de trabalho para a vida? O estudo mostra que sim. O que muda entre os gêneros, no entanto, é a quantidade de amigos que se mantém. Homens indicaram manter um número maior de amizades, com 37% dizendo preservar mais de cinco amigos de empregos anteriores, número que cai para 23% para as mulheres.  

Já as mulheres, parecem seguir a lógica dos “poucos e bons”, pois 34% responderam que seguem com poucas amizades de trabalhos antigos, permanecendo com uma ou duas, porcentagem que cai para 25% quando em relação aos homens.

Dentro e fora da empresa

Para além do espaço das empresas, as amizades construídas no trabalho também podem extrapolar o ambiente profissional. E quando se fala nas programações que constituem essas relações, existem algumas que se destacam e que vão para além do conhecido happy hour entre colegas.

Mulheres parecem investir mais nas atividades com os amigos fora do trabalho. Entre as programações preferidas, aparecem saídas para almoços e jantares, indicado por 57% das entrevistadas, enquanto os números caem 37% para os homens. Festas e celebrações pessoais também são mais comuns entre mulheres (47%) do que entre homens (34%).

No entanto, os homens ficam à frente quando as atividades envolvem a prática de esportes ou de jogos. A programação foi destacada por 24% dos entrevistados, dado menos expressivo entre as mulheres (10%).

“Novamente, vemos a validação de alguns paradigmas. Podemos analisar os dados de uma perspectiva em que as mulheres mantêm menos conexões,mas mais profunda com amigos de trabalho. Por outro lado, os homens permanecem com mais amigos, mas com  um tom mais casual. Os números fazem sentido também quando pensamos nas programações preferidas de cada gênero”, analisa Augustine.

Mas nem tudo “são flores”

Tanto amizades quanto relações de trabalho não são sempre tranquilas, pelo contrário. Conflitos fazem parte dos diferentes e vínculos, mas também podem vir para o amadurecimento das conexões. Profissionalmente, a discordância, com frequência, é positiva, pois traz diferentes pontos de vista para as situações, apenas é necessário que se meça a forma como as opiniões são apresentadas.  

No trabalho, homens já tiveram mais conflitos por causa de amizades (33%) do que as mulheres (25%). As principais motivações masculinas nos desentendimentos são questões envolvendo dinheiro e questões amorosas.

“A pesquisa nos mostra que as amizades dos ambientes de trabalho não se diferenciam tanto das de outros espaços. São as extensões das características dos gêneros observadas nos diferentes grupos sociais. Em relação aos padrões, também podemos perceber as desconstruções, que são essenciais no universo corporativo”, explica Augustine.

“De qualquer forma, o rompimento dos paradigmas está menos relacionado com a perda dos atributos relacionados aos gêneros, mas, sim, à aceitação dessas particularidades dentro de cada um. E é isso que traz o enriquecimento tão necessário e tão buscado atualmente no mundo profissional”, conclui ela.

Metodologia

Entre os dias 05 e 08 de julho de 2024, a Onlinecurriculo ouviu 500 pessoas de diversos segmentos produtivos, faixas etárias, classes sociais e regiões do país. Mulheres e homens foram entrevistados individualmente, respondendo as perguntas através de questionário estruturado em formato online.

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