Pesquisa desafios dos brasileiros nas férias: veja como lidam com ritmo, datas e acúmulo de trabalho

Estudo ainda revela: 46% dos respondentes apontam que não recebem apoio integral de seus contratantes para o recesso obrigatório
Lotte van Rijswijk
Líder da Equipe de Conteúdo
Atualizado em 07 novembro 2024

As férias representam um dos momentos mais aguardados pelos trabalhadores, direito que, no Brasil, se adquire após um ano de trabalho formal sob o regime CLT. Esse período de descanso é essencial para recarregar as energias; é tão importante quanto o trabalho em si, pois auxilia na saúde mental, aliviando o estresse e o cansaço físico e emocional. Apesar disso, alguns obstáculos profissionais fazem com que esse período não seja tão tranquilo quanto o esperado.

Para entender melhor essas dificuldades, a plataforma de currículos online Onlinecurriculo realizou uma pesquisa com 500 brasileiros de todas as regiões do país, investigando quais são suas principais dúvidas e desafios. Os resultados mostram que as maiores complicações estão tanto na escolha das datas quanto no retorno às atividades cotidianas.

Para 42% dos entrevistados, a principal dificuldade é retomar o ritmo de trabalho após as férias. Diante disso, o incentivo à reintegração gradual se mostra fundamental para que produtividade e concentração sejam restabelecidas de forma natural. Outro ponto de estresse é o planejamento do período de férias junto aos superiores: para 32% dos brasileiros, negociar com chefes e colegas sobre data e duração do descanso é a segunda maior dificuldade.

Além das complicações com o início e o fim do período de férias, o afastamento das responsabilidades profissionais também traz outra preocupação. Segundo 27% dos participantes, a sensação de que o trabalho se acumula enquanto estão fora representa uma dificuldade adicional. Um sentimento que pode estar atrelado ao medo de se desligar e se conectar a outras atividades, se não o trabalho. Outras respostas que vão na mesma direção da preocupação com compromissos profissionais contabilizam 26% dos resultados, como: estar alheio a comunicações e mudanças e interromper projetos no meio do caminho e impactar metas ou prazos.

Para a especialista em carreiras da Onlinecurrículo, Amanda Augustine, as dificuldades profissionais durante as férias podem refletir a mentalidade do empregador e de questões internas do próprio colaborador.“ Essas complicações podem estar ligadas, principalmente, à cultura da empresa, que deve se atentar a equilibrar produtividade e bem-estar. Quando as diretrizes empresariais não priorizam o descanso adequado e a saúde mental, os funcionários podem sentir-se pressionados a manter um nível de engajamento excessivo”, afirma.

“Outro fator é o componente interno, no qual o próprio colaborador pode ter dificuldades em se desconectar por completo - deve ser abordado com maior apoio da empresa. Estratégias de incentivo à desconexão total são fundamentais para que o trabalhador possa realmente aproveitar seu tempo de descanso e retornar revigorado”, completa. 

Aquela conversa

A conversa sobre férias com os superiores é inevitável, e é nesse momento que muitos brasileiros percebem o nível de apoio que terão para aproveitar o período de descanso. Embora 53% dos trabalhadores indiquem incentivo e apoio das empresas para a retirada de férias, 46% afirmam que esse apoio é parcial ou inexistente. Os respondentes relatam que enfrentam pressão para permanecer disponíveis, inflexibilidade na escolha das datas ou até desincentivo ao uso integral das férias; o que reflete uma baixa adesão ao descanso dos trabalhadores — um período cada vez mais valorizado para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Organização financeira durante as férias

Para custear algumas formas de desfrutar o tempo fora do escritório e longe das telas do computador, muitos trabalhadores lidam com as despesas utilizando recursos financeiros variados. Para além de economizar antecipadamente, 18% dos respondentes escolhem utilizar o 13º salário para administrar as finanças pessoais durante o período, visto que esse benefício é geralmente pago ao final do ano - época que coincide com a temporada de férias. 

No entanto, 16% dos entrevistados preferem subsidiar a folga com o adiantamento salarial disponibilizado pela empresa. Na sequência, surgem a venda de parte das férias (13%) e o pagamento por meio de empréstimos e cartão de crédito (9%).

Dúvidas sobre a legislação trabalhista

Embora algumas formas de planejamento orçamentário estejam claras para o colaborador, quando o assunto são as Leis Trabalhistas, restam algumas incertezas. De acordo com 41% dos brasileiros, a principal dúvida sobre férias em relação às leis que regem o vínculo empregatício estão no pagamento e nos benefícios financeiros. O que é abono de férias, quando receber o adiantamento e qual o valor que será enviado podem estar na lista de perguntas dos colaboradores. Inclusive, a venda de férias é um dos tópicos que ainda não estão totalmente explicados, segundo os brasileiros.

É possível vender uma parte das férias e quantos dias de férias posso vender? Prováveis dúvidas que afetam a organização de recursos para o descanso remunerado, de acordo com 36% dos participantes. Por sua vez, 25% têm dificuldades no entendimento sobre a escolha e duração do período de férias. Conforme a legislação trabalhista, a definição da data está incumbida a própria empresa e deve ser avisada previamente, com 30 dias de antecedência ao funcionário.

Trabalhar durante o período de repouso também é uma questão, para 23% dos brasileiros. É possível que o trabalhador goze de férias de uma empresa enquanto trabalhe para outra, se mantiver regularmente mais de um emprego - caso não, o colaborador pode sofrer punições. No ranking, outros tópicos levatam dúvidas, como: saúde e bem-estar durante as férias (16%), cancelamento ou adiamento (14%) e demissão (12%).

“As incertezas que acompanham o período de repouso do trabalhador não só atrapalham a organização de recursos do funcionário, como também geram certo estresse, comprometendo o descanso adequado. É importante que a comunicação entre empregador e empregado seja clara e efetiva, para que ruídos não se tornem recorrentes”, conclui Augustine, especialista em carreiras na Onlinecurriculo.

Metodologia

Entre os dias 18 e 23 de outubro de 2024, a Onlinecurriculo ouviu 500 pessoas de diversos segmentos produtivos, faixas etárias, classes sociais e regiões do país. Mulheres e homens foram entrevistados individualmente, respondendo às perguntas por meio de questionário estruturado em formato online.

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